Neste período de isolamento abri o livro “Os oito pilares da prosperidade”, de James Allen, e encontrei alguns rabiscos de muitos anos atrás que tratam do tema confiança e entendimento, da dicotomia entre ambos, e tomo a iniciativa de compartilhar, pois tem efeitos diretos na vida das pessoas, empresas, comunidades, nações. Para que possamos analisar o tema, julgamos importante destacar alguns conceitos que influenciam na confiança e no entendimento.
- a) Confiança pode ser definida como a previsibilidade do comportamento de duas ou mais pessoas que corroboram com princípios, valores, comportamento estável e cooperativo. É um bom conceito que inspira as pessoas de probidade, talento e familiaridade.
Com relação ao entendimento há três substantivos que compreendo ser as bases de um bom entendimento: harmonia, consenso e negociação.
- b) Harmonia corresponde a um alto grau de concordância em que há acordo e ausência de conflitos, correspondendo ao equilíbrio ou combinação entre elementos ou pessoas, que ocasiona uma sensação agradável no compartilhamento de projetos, em trabalhar juntos, em tomar uma boa cerveja (claro, após a pandemia). Para que haja harmonia são fatores importantes: entendimento e consenso. Há respeito entre as pessoas, empatia, concordância de opiniões e sentimentos.
- c) Consenso é o acordo de várias pessoas, representando um modo de tomada de decisão, buscando um bem comum. No caso, não há argumentos contrários ou objeções ao que está sendo proposto, correspondendo a uma igualdade de opiniões, pensamentos, sensações ou sentimentos, algumas vezes sendo obtido por maioria dos votos. O consenso existe mesmo quando no grupo de pessoas haja tendências distintas de pensamento, partido político, religião e outros. Uma reunião de condomínio residencial, por exemplo, há muito burburinho com muitos participantes falando ao mesmo tempo, baixo entendimento, mas o consenso geralmente é pela votação da maioria.
O Consenso de Washington, ocorrido em 1989, em Washington-USA, elaborou uma série de recomendações visando ao desenvolvimento e à ampliação do neoliberalismo nos países da América Latina. Esse encontro envolveu instituições e economistas com perfil liberal, alguns pensadores e administradores de países latino-americanos.
- d) Negociação é um processo de relacionamento interpessoal, pelo qual as partes buscam o entendimento e o consenso. Ela ocorre por meio do diálogo, sendo uma forma de minimizar ou eliminar as diferenças.
O equilíbrio entre confiança e entendimento convergem para um elevado grau de sinergia, contribuindo para o engrandecimento das partes e um processo de ganha-ganha. Em geral, há variabilidades entre confiança e harmonia em que as relações podem gerar conflitos, conforme a Matriz abaixo.
- a) Entendimento alto e confiança baixa são categorias que não possuem confiança entre si, buscam favorecer a sua própria comunidade ou agremiação. Todavia, quando há alguma situação ou projeto de interesse mútuo, acabam se unindo para seu êxito. Citamos como exemplo os políticos que, de forma geral, têm entendimento alto quando têm interesses comuns para favorecimento em benefícios para toda a classe política, independentemente ao partido político ou sua tendência a que estão vinculados. O grau de confiança entre eles é baixo, mas neste caso o consenso e entendimento serão altos.
Na segunda guerra mundial, houve a Conferência de Teerã que foi a primeira de duas reuniões dos “três grandes” líderes das nações aliadas: Joseph Stalin da União Soviética, o presidente americano Franklin Roosevelt, e o primeiro-ministro Winston Churchill, da Grã-Bretanha. Apesar de posições antagônicas que, posteriormente geraram a Guerra Fria (capitalismo x comunismo), eles tinham interesses comuns sobre a estratégia para derrotar a Alemanha e como dividiriam suas respectivas zonas de influência no mundo.
- b) Confiança alta e entendimento baixo – uma empresa com recursos financeiros limitados para novos investimentos, mas tendo dois ou três projetos para aprovação à Direção Geral que, devido a essa restrição, terá que optar somente um deles que traga maior retorno e possa contribuir para outros projetos no futuro.
Inicialmente, a confiança entre os executivos pode ser alta, por respeito pelos seus cargos, história na empresa, bem como às respectivas capacidades técnica-profissional. Contudo, o entendimento inicial poderá ser baixo, visto que cada um procurará “puxar a brasa para sua sardinha”. A luta para ter o seu respectivo projeto indicado para ser o vencedor deverá gerar uma negociação interna para se atingir o consenso.
Aqui pode ocorrer um dos seguintes caminhos:
- c) Confiança Alta e Entendimento Alto. Ocorrendo harmonia e união entre as equipes dos projetos não escolhidos e aquele escolhido, tudo irá conspirar para o seu sucesso, visto que haverá união de todos para que o projeto seja viabilizado integralmente e traga recursos para que outros projetos sejam aprovados no futuro, que chamamos de ganha-ganha, que aumenta o “tamanho do bolo ao invés de dividi-lo”.
O ganha-ganha busca benefícios em todas as relações humanas, respeitando e deixando todos confortáveis com a decisão, o que traz a confiança de que todos os acordos e soluções serão benéficos a toda a organização e estarão comprometidos com o plano de execução. O grau de comunicação é elevado, fluindo adequadamente entre as equipes.
O sucesso está diretamente vinculado à confiança interpessoal (entre as pessoas) e à confiança na organização e seus dirigentes.
Confiança e entendimento alto são a base das equipes de alto desempenho.
- d) Confiança e entendimento baixos. Podemos ter uma relação ganha-perde, se o líder do projeto vencedor disser “eu sigo adiante, sou mais eficiente que vocês, o CEO gosta de mim etc.”. O líder que adota essa postura tem propensão a usar sua posição, cargo, poder e fatores de sua personalidade para avançar.
É uma postura de egocentrismo, desejando ser o centro de atenção, podendo provocar uma divisão interna ocasionando efeito contrário ao ganha-ganha, que é o perde-perde, sobretudo se, dentre os perdedores houver algum líder com perfil idêntico, podendo tornar-se vingativo.
Cabe aos lideres da empresa, bem como ao gestor do projeto vencedor evitar que as equipes que tiveram os seus projetos rejeitados tenham um sentido de derrota pessoal e profissional que, como consequência, poderão passar uma imagem negativa para suas equipes, ocasionando murmurinhos e uma grande barreira para o sucesso do projeto aprovado, prejudicando a empresa.
Este é o pior cenário possível, fadado a deteriorar as relações, aumentando o grau de rivalidade entre as equipes, cujo grau de comunicação é ruim e cheia de ruídos.