- Metodologia de apuração
A JLucentini – Consultores Associados mensalmente presta informação qualitativa, objetivando orientar os gestores de empresas de alimentação a respeito da inflação dos gêneros alimentícios, e seus impactos na erosão dos lucros.
A nossa metodologia considera preço à vista nos maiores atacadistas do Estado de São Paulo, tomando-se um cardápio-base composto por itens componentes do desjejum, almoço (incluindo sopa), lanche e jantar.
- Inflação em fevereiro/2023
A nossa medição apresentou uma deflação de 3,5%, devido à redução nos principais itens componentes de nossa cesta: 7,7% nas proteínas (frango em pedaços, -12,54%) e algumas proteínas bovinas e suínas. Houve deflação também de 4,6% no LFV (legumes, frutas e verduras) que também contribui para a queda nas sopas em 7,46% e 6,47% no café. Mesmo apesar dessa deflação, o índice acumulado, em tendência de queda gradativa, atinge 8,4%.
Esse valor é formado da seguinte maneira: valor do acumulado dos 12 meses gerado no mês anterior (jan/23 à14,2%), subtraído pelo índice do mês atual (fev/23 à -3,5%), resultando em 10,7%. Porém, para manter os últimos 12 meses atualizados é necessário retirar o mesmo mês do ano anterior, ou seja, se é adicionado fevereiro de 2023, é preciso excluir fevereiro de 2022 para que permaneçam os últimos 12 meses. Com isso é “reduzida” uma porcentagem, que nessa situação foi de 2,3%, resultando enfim nos 8,4%. Em resumo: partindo de 14,2% do acumulado 12 meses em janeiro/23, excluindo-se fevereiro/22 e acrescentando-se a deflação de fevereiro/23 em 3,5%, atinge-se um novo acumulado de 12 meses (mar/22 a fev/23) a 8,4%.
Todavia, o aumento nos preços dos combustíveis, pela redução nas alíquotas do PIS (Programa de Integração Social) e COFINS (Contribuição pra Financiamento da Seguridade Social) e, ainda, a discussão sobre ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos Estados da Federação (não feito, ainda), é um indicador de um possível repique da inflação dos gêneros alimentícios, nos próximos meses.
Em nosso gráfico a seguir, demonstramos a inflação mensurada pela nossa consultoria versus o índice do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), determinando o gap entre inflação dos gêneros e o provável reajuste nos preços de venda.
Outrossim, cabe destacar que, apesar da redução em nossa medição, que também será refletida no IPCA, onerando o resultado operacional, pois os cardápios sofreram impactos em média de 21,5% nos primeiros cinco meses do período analisado, isso significa que há um descompasso na relação custo x venda, pois com a redução do IPCA nesses próximos meses, que serão base para o reajuste de preços, o impacto do aumento nos preços dos produtos não está captado, ou seja, não será repassado, o que pode provocar uma redução no RBO (Resultado Bruto Operacional) da empresa, que se perpetuará, caso não tenha sido tomada nenhuma medida preventiva.
Os preços da maioria dos alimentos caíram, como apontado pela nossa apuração, sobretudo dos LFV, devido ao alto índice de chuvas que ocorreu no mês. Por não terem uma das melhores colheitas e produções, a forma estratégica abordada pelos produtores foi “despachar” esses produtos de baixa qualidade com redução nos preços para que sejam vendidos mais rapidamente, evitando-se prejuízos, pois as chuvas impedem um trabalho normal de colheita e distribuição, sobretudo nos “cinturões-verdes”.
No caso inverso, onde também há problemas na colheita por consequência do clima, a safra pode ter bom resultado e, para valorizar esses poucos produtos bons que restaram, elevam-se os preços. Esse efeito é chamado de lei da oferta e procura, onde os preços são alterados conforme a qualidade/quantidade do produto naquele período, e a busca pelos consumidores e empresas de alimentação.
Destacamos, ainda, a alta do preço do arroz, que ocorreu em todas as capitais, que deve-se ao aumento no preço dos fertilizantes e à maior demanda externa. Como citamos, os LFV e sopas tiveram, em especial, altas expressivas: a cenoura com 94,89%, e o tomate com 3,71%, que interferiram no grupo da guarnição, totalizando em 1,03%. Já a banana (1,65%) e a laranja (1,86%) representaram dentro do setor de sobremesas 9,56%, com altas ocorridas devido às fortes chuvas em diversas regiões do país.
Outros itens dos LFVs tiveram redução que reflete no grupo das saladas, e que contribuíram sensivelmente para a deflação no grupo, em fevereiro, em -4,60%. Destacam-se as quedas da batata (-23,74%) e cebola (-1,37%), reduzindo a queda nas sopas (-7,46%), do frango em pedaços (-12,54%) e algumas outras proteínas bovinas (-14,05%), também utilizadas em partes nas sopas, que contribuíram para a redução deste item em -7,46%.
Fonte: JL Consultoria Empresarial.
- Índices oficiais versus índices reais de inflação da alimentação
Comparativamente aos índices oficiais, temos o seguinte quadro comparativo, que corrobora com o cálculo acima: reajuste nos preços de venda versus inflação nos alimentos (fonte: Valor Consulting e ABERC).
Índice |
Fevereiro/23 | Acumulado
2023 |
Últimos
12 meses |
Acumulado 2022 |
Índice da JL Consultoria |
-3,50% |
-3,40 % | 8,40% | 14,30% |
IPCA |
0,76% |
1,31% | 5,63% | 5,90% |
INPC (jan.) |
0,46% |
0,46% | 5,71% | 5,93% |
IGPM |
-0,06% |
0,15% | 1,86% |
5,45% |
IPA M |
-0,20% | -0,10% | 0,42% |
5,27% |
IPC-M |
0,38% | 0,99% | 4,54% |
4,30% |
FIPE |
0,36% | 0,72% | 11,67% |
7,32% |
Temos destacado em artigos de meses anteriores a deterioração no lucro das empresas de alimentação corporativa. Enquanto o impacto nos custos de alimentação é de 14,30%, no acumulado em 2022, com picos acima de 20%, os reajustes de preços, em maioria pelo IPCA, podem nem sempre ser repassados na íntegra, devido à negociação pelo cliente e, como já destacado, produzem uma redução direta sobre o RBO e, consequentemente, no lucro final da empresa.
Caso haja mudança nos cardápios, diminuindo sua qualidade com objetivo de diminuir prejuízos, possíveis impactos indiretos são a insatisfação do cliente e possível ruptura de contrato, diminuindo a probabilidade de fidelização desse cliente.
Desta forma, a título de exemplo, em 2022 o impacto econômico e financeiro nos últimos 12 meses, que perfez 14,3%, podem ser medidos da seguinte forma: 60% dos custos de matéria-prima sobre os custos totais da unidade operacional = 60%, diferença entre a inflação medida pela JLucentini e o IPCA (14,30% – 5,90% = -8,40%) e, consequentemente, perda possível no RBO = 60% x 8,40% = 5,04%.
- Seu lucro está sendo consumido?
Caso sua empresa esteja em situação similar à descrita nesse artigo, podemos ajudá-lo. Nossa experiência permitirá ajudar a sua empresa a encontrar a melhor relação custo-benefício em toda a sua cadeia produtiva, de venda e retenção de clientes. Não deixe de nos contatar.
Cordial abraço,
JL Food News
Referências bibliográficas:
ABDALA, V. Prévia da inflação oficial fica em 0,76% em fevereiro. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-02/previa-da-inflacao-oficial-fica-em-076-em-fevereiro>. Acesso em 08 de mar. 2023.
ABERC – associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas. Índices FIPE – Fundação de Pesquisas Econômicas. Disponível em: <https://www.catalogoaberc.com.br/filtro-indices/?_sft_ano_indice=2023&_sft_tipo_indice=fipe>. Acesso em 08 de mar. 2023.
CAVALLINI, M.; MIATO, B. Puxado pelos alimentos, IPCA sobe pelo 4° mês seguido e tem alta de 0,53% em janeiro. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/02/09/ipca-tem-alta-de-053percent-em-janeiro.ghtml>. Acesso em 08 de mar. 2023.
FGV – Fundação Getúlio Vargas. Em janeiro, valor médio da Cesta Básica diminui em set das oito cidades pesquisadas. Disponível em: <https://portal.fgv.br/noticias/janeiro-valor-medio-cesta-basica-diminui-sete-oito-cidades-pesquisadas>. Acesso em 08 de mar. 2023.