- Introdução
A inflação elevada continua aumentando nas maiores economias do mundo e atingiu a maior taxa anual desde 1991 nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
É preciso considerar que, em geral, a grande maioria desses países sempre teve uma inflação comportada e a baixa evolução ocorrida na área da OCDE subiu, na média, para 5,8% em 2021, devido aos preços dos serviços, da energia e dos alimentos.
No G20, que tem as maiores economias desenvolvidas e emergentes, a inflação avançou em janeiro para 6,5%, comparado a 6,1% em dezembro, em base anual. No grupo, nossa vizinha Argentina tem a maior taxa, de 50,9%, e na Turquia (que é também membro da OCDE), a taxa subiu de 36,1% em dezembro para 48,7% em janeiro, impactando os Estados Unidos que teve, em 2021, a inflação mais alta em 40 anos (atingindo 7%).
O Brasil vem em terceiro lugar, com a inflação tendo passado de 10,1% para 10,4%. Na Rússia, passou de 8,4% para 8,7%, mas deve aumentar num ritmo agora muito maior, com o impacto das sanções impostas por países ocidentais em reação ao ataque russo na Ucrânia.
1.1 Efeitos do conflito Rússia e Ucrânia
Os efeitos decorrentes da invasão russa na Ucrânia proporcionarão efeitos inflacionários e escassez de algumas matérias-primas, cujo desenrolar poderá ter impactos nas economias de todo o mundo e, por consequência, redução no PIB (produto interno bruto) e aumento maior da inflação.
Os fatores que poderão contribuir para isso são a disparada da inflação global, aumento nos preços da energia, dos fertilizantes, que são o principal insumo para a agricultura, dos alimentos e dos metais, além de uma possível desorganização dos fluxos de mercadorias e serviços.
Essa alta de inflação nos EUA deve provocar uma alta dos juros que se presume iniciar em março/abril, uma possível desaceleração da economia na China e, em menor grau, a possibilidade de novas variantes da Covid-19. Esse recrudescimento poderá trazer em maior ou menor grau impactos às empresas de alimentação empresarial, com diminuição do PIB pela desaceleração nas exportações, no agronegócio e postergação na retomada de negócios de seus clientes.
Essa crise profunda de consequências graves de curto e longo prazo, com efeitos que poderão ser sentidos por anos à frente, também terá efeitos inflacionários na alimentação, para os quais precisamos estar atentos, todavia, um dos impactos mais imediatos é no preço do trigo, um dos grãos mais importantes usados na alimentação, presente nos pães, nas massas, nas bebidas e nas rações animais. O Brasil é um importador desse produto, já que produz menos do que consome. Em 2021, o país produziu 7,7 milhões de toneladas e importou um pouco mais de 6,2 milhões de toneladas, principalmente da Argentina.
Embora a importação direta da Rússia ou da Ucrânia (respectivamente o primeiro e o quarto maiores exportadores mundiais) não seja relevante, o Brasil sentirá o efeito da alta nos preços que pode ocorrer por conta da guerra. Segundo a consultoria Agroconsult, os preços internacionais já subiram 20% desde o início do ano e tendem a subir ainda mais com o conflito.
O milho, grão fundamental para a alimentação animal, é outro que afeta a inflação. Segundo os especialistas, o produto já está com cotações muito elevadas no mercado internacional, e qualquer aumento adicional vai pressionar ainda mais os custos dos produtores de carne. A Ucrânia é responsável por cerca de 16% das exportações mundiais de milho.
Também há o impacto nos fertilizantes. A Rússia é o maior fornecedor desse produto para o Brasil, com cerca de 20% dos adubos comprados pelo país. Este é exatamente o momento do ano em que os produtores estão comprando os fertilizantes para a safra 2022/2023, e o aumento dos custos por conta do conflito tornou-se motivo de grande preocupação.
No caso dos fertilizantes, os preços já vinham subindo por pressão no gás natural e petróleo, além das dificuldades no Belarus. A própria Rússia é grande exportadora para o Brasil de fertilizantes e, juntando com o mercado bielorrusso, temos mais de 60% de fertilizantes importantes que usamos e que vêm daquela região.
O aumento do diesel também interfere indiretamente no preço da comida, ao ser repassado por meio de fretes mais caros. A Rússia é um grande exportador energético, de petróleo e gás natural, sobretudo para a Europa.
- A Inflação do cardápio em fevereiro/22
Após um bom comportamento da inflação no mês de janeiro de 2022 (0,2%), houve uma evolução importante no mês de fevereiro (2,3%), perfazendo nos últimos 12 meses em 25,9%, não demonstrando sinais de arrefecimento ou diminuição de patamar. Logo, os preços estão sendo mantidos em alta, com possíveis agravantes, que comentamos no item precedente.
Acrescente-se, ainda, que os reajustes nos preços praticados pelas empresas, desde que em sua plenitude (aceitação pelo cliente, sem negociar), têm como base, em sua grande maioria, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), comparado a outros indicadores, na tabela a seguir.
Desta forma, se 60% dos custos correspondem aos insumos e indiretos de produção, haverá uma discrepância com redução direta nos lucros, ou mudanças nos cardápios, gerando insatisfação do cliente e seus colaboradores, podendo culminar com a rescisão do contrato.
Impacto = (% Inflação anual – % IPCA) x 0,60 à 25,9% – 10,4% = 15,5% x 0,60 = 9,3%
Segundo o site Valor Consulting (03/03/2022), os principais índices acumulados de 2022, nos últimos 12 meses e do ano de 2021, são:
Índice | Fev/22 | Acumulado2022 | Últimos12 meses | Acumulado
2021 |
Índice da JL Consultoria | 2,30% | 2,50% | 25,90% | 24,00% (*) |
IPCA (fev.) | 0,99% | 1,58% | 10,76% | 10,42% |
INPC (jan.) | 0,67% | 0,67% | 10,59% | 9,36% |
IGPM (fev.) | 1,83% | 3,68% | 16,12% | 17,79% |
IPA M (fev.) | 2,36% | 4,71% | 18,26% | 20,58% |
IPC-M (fev.) | 0,33% | 0,75% | 9,31% | 9,32% |
(*) período de apuração – janeiro a dezembro/2021.
A apuração de nossa consultoria está no quadro a seguir, representando o índice de inflação nas compras e consumo das empresas de alimentação, cujos critérios são:
a) Preço à vista, pois quando as empresas de alimentação requerem aumento de pagamento ou rebates, os fornecedores nem sempre possuem margem de lucro que suporte esses custos adicionais, repassando-os, portanto, aos seus respectivos preços de venda, com cálculo por dentro, acrescentando impostos e margem, o que aumenta o custo final;
b) A inflação interna, conforme temos demonstrado, tem se mantido muito acima dos reajustes de preços praticados, o que diminui a margem de lucro;
c) Círculo vicioso – para manutenção da lucratividade, qualquer mudança no padrão dos cardápios e de pessoal, na maioria dos casos, representa alto risco de insatisfação dos clientes e, ao longo do tempo, possibilidades de ruptura de contrato.
- Comentários sobre a inflação de fevereiro/2022
Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta de preços em fevereiro, influenciados, principalmente, pelo segmento de alimentação e bebidas (1,11%). O grupo teve o maior impacto no índice do mês (0,23 ponto percentual), cujos principais destaques foram os legumes, carnes e frutas, que embora tenham desacelerado em relação aos meses anteriores, tiveram os maiores impactos nesse grupo, bem como destaca aumentos em produtos como cenoura (27,64%), cebola (12,43%), batata inglesa (9,65%) e tomate (6,21%), o que elevou o custo da sopa, saladas e guarnições.
Por outro lado, itens que tiveram índices elevados nos últimos 12 meses, como o suco polpa (bebidas) e café, devido ao menor consumo no verão, tiveram uma redução, assim como as proteínas em geral, mas conforme nossa tabela, têm mantido um percentual elevado ao longo desse período.
Segundo o Canal Rural, os preços dos alimentos têm aumentado cada vez mais nos últimos anos. Somente do começo da pandemia para cá, a soma da inflação já chega a 21,4% e a tendência para este ano é de que os preços não parem de aumentar.
Esse cenário acontece por conta de diversas circunstâncias, como o aumento da exportação e eventos climáticos que impactam o país, como fortes tempestades ou meses de seca, afetando o componente mais frágil do cardápio que são as verduras, legumes e frutas.
3.1 Grupos de alimentos que deverão subir em 2022
Em geral, problemas com o clima causam problemas no plantio nesse momento, e uma menor oferta após o período da colheita, e o Canal Rural destaca a tendência dos principais insumos componentes do cardápio.
Milho e soja: A falta de chuva impactou o plantio e o desenvolvimento das plantas, gerando perdas para diversos produtores do sul do centro-oeste brasileiro. Esse cenário já causou o aumento no valor dos produtos em 2021 e deve seguir provocando alta neste ano.
Frango: O preço da carne tem chamado atenção dos consumidores há um bom tempo, e em 2022 não deve melhorar. A escassez de chuva aumentou os custos de produção do setor, que deve repassar os valores para os consumidores nos próximos meses.
Feijão: O valor do feijão poderá ser afetado tanto pela seca nas lavouras do Paraná quanto pelo aumento das chuvas que geraram perdas em Minas Gerais e na Bahia. Esses eventos acarretam aumento no valor da saca no atacado, que deve ter reflexos no varejo.
Carne bovina: O valor da carne bovina disparou em 2020 e seguiu em alta em 2021. A expectativa para 2022 é de que os criadores não repassem os aumentos causados pela seca para o consumidor final, já que o varejo não consegue mais absorver as altas nos preços.
Fonte: FDR (2022).
- Seu lucro está sendo consumido pela falta de controle nos reajustes de custos
Esperamos que esses comentários sirvam de alerta de como evitar a erosão de seus lucros.
Caso sua empresa deseje estruturar um processo de inflação interna de custos (que compreende mão de obra também) e, ainda, está em situação similar aos pontos enumerados neste artigo, com queda de lucratividade, insatisfação de clientes, inflação interna superior aos índices de repasse de preços, operação de logística e de distribuição, clientes ou operações com prejuízo, dentre outros, não deixe de contatar a JLucentini – Consultores Associados.
Nossa experiência permitirá ajudar a sua empresa a encontrar a melhor relação custo-benefício em toda a sua cadeia produtiva.
Cordial abraço,
José Carlos Lucentini, Msc.
CEO
Contatos:
Cel.: (11) 98848-1119
ESTADÃO. Guerra deve elevar preço dos alimentos e impactar inflação brasileira. 2022. Disponível em: <https://exame.com/brasil/guerra-deve-elevar-preco-dos-alimentos-e-impactar-inflacao-brasileira/>. Acesso em 03 de março de 2022.
FOLHAPRES. Puxada pelos preços dos alimentos, inflação é a maior para janeiro desde 2016. 2022. Disponível em: <https://tribunapr.uol.com.br/noticias/brasil/puxada-pelos-precos-dos-alimentos-inflacao-dispara-e-e-a-maior-para-janeiro-desde-2016/>. Acesso em 03 de março de 2022.
LIRA, M. Guerra na Ucrânia pode afetar inflação e PIB no Brasil, aponta FGV. Disponível em: <https://jcconcursos.com.br/noticia/brasil/guerra-na-ucrania-pode-afetar-inflacao-e-pib-no-brasil-aponta-fgv-92219>. Acesso em 03 de março de 2022.
NUZZI, V. Preços de alimentos sobem, ‘prévia’ é a maior em seis anos e inflação de fevereiro dispara. 2022. Disponível em: <https://www.redebrasilatual.com.br/economia/2022/02/precos-alimentos-sobem-previa-maior-seis-anos-inflacao-fevereiro-dispara/>. Acesso em 03 de março de 2022.
SARAIVA, A. et al. Guerra afeta inflação e atividade, mas impacto dependerá da duração. 2022. Disponível em: <https://valorinveste.globo.com/mercados/internacional-e-commodities/noticia/2022/02/25/guerra-afeta-inflacao-e-atividade-mas-impacto-dependera-da-duracao.ghtml>. Acesso em 03 de março de 2022.
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